domingo, 15 de abril de 2012

APRENDIZAGEM NA ERA DIGITAL


A Educação em tempos de Control C e Control V

Como o “copiar e colar” da internet interferem no aprendizado das crianças e adolescentes nas escolas? Quais são os prejuízos? Há benefícios?
João Luís de Almeida Machado



Nos anos 1970 e 1980 era comum que as famílias brasileiras fossem visitadas por vendedores de enciclopédias. Coleções de livros que traziam informações sobre todos os assuntos que interessavam aos pais e a seus filhos, neste caso, em especial para atender a trabalhos e pesquisas escolares. Barsa, Delta Larousse, Conhecer e tantas outras destas coleções ficaram bastante conhecidas e, além de presentes nas casas das pessoas, eram também encontradas em bibliotecas públicas e escolares.

A partir do momento em que uma tarefa escolar que exigia pesquisa era demandada pelos professores estes instrumentos do conhecimento eram logo acessados. Os alunos buscavam verbetes em suas páginas, liam o conteúdo, retiravam as ideias mais importantes - ou aproveitavam todo o conteúdo, e colocavam no papel. Dependendo do grau de maturidade dos alunos ou da série (ano escolar) em que se encontravam, muitos professores pediam que o conteúdo não fosse apenas uma cópia, mas sim uma seleção de informações que gerasse textos mais personalizados.
Nem todos os professores assim o faziam, é claro. Assim como, mesmo quando isso era pedido, muitos alunos, por motivos variados (preguiça, dificuldade, desorganização, por deixarem para a última hora...), ou não faziam ou quando realizavam esta releitura, a faziam apenas de modo acumprir tabela, ou seja, pró-forme. De qualquer modo, era esse o ensejo, o caminho, a trajetória percorrida por muitos estudantes daquelas décadas, guiados por suas enciclopédias.
Estes livros, por sinal, constituem um desejo humano tão antigo quanto a Bíblia e outros livros sagrados parecem expressar: A ideia de que nas páginas de uma publicação pudesse estar contida toda a sabedoria do mundo ou, pelo menos, a forma como nós conseguimos deduzir e interpretar tudo o que nos cerca. Arte, ciência, filosofia, matemática, literatura, música, história, educação, saúde e tudo o mais em forma de letras e imagens. Decodificado pela mente humana e colocado dentro de linguagem acessível que permita o acesso ao conhecimento a todos os mortais.
Este conceito veio a tomar forma e corpo, no modelo que conhecemos hoje, durante o movimento pré-revolucionário francês do século XVIII. Constitui uma das espinhas dorsais do Iluminismo ou Revolução das Luzes. Seus artífices foram os pensadores Denis Diderot e Jean D’Alembert que, no ensejo de legar a população de seu país (e do mundo) o direito legítimo de conhecer, de saber, de ter contato com a ciência, as artes e todas as áreas do conhecimento, produziram sua Enciclopédia. Atribuíram a alguns dos grandes nomes da época, como Voltaire e Rousseau, o compromisso de escrever alguns destes verbetes.
Na Era da Informação que estamos vivendo agora, com o advento da internet e outras tecnologias, as enciclopédias em papel parecem ter perdido o próprio sentido de existência. Há “organismos vivos” em gestação (em rede) que suprem, literalmente, a falta de todos aqueles livros. É possível, por exemplo, acessar a Wikipedia, atualizada diariamente em inúmeras línguas, e pesquisar dados sobre todos os assuntos de uma coleção como a Barsa e, ainda, encontrar muitos outros temas não abarcados em seus vários volumes.
Basicamente, no entanto, ainda que enriquecido por mídias como vídeos, podcasts, imagens e/ou infográficos, as enciclopédias digitais, ou mesmo as páginas resultantes de pesquisas em mecanismos de busca como o Google são apenas ferramentas, meios ou plataformas para se chegar à informação. Não são tão diferentes, portanto, dos livros e, de modo mais específico, as enciclopédias.
A relação das pessoas e, no caso, dos estudantes com a pesquisa em enciclopédias de papel ou em suas versões virtuais pode parecer, num primeiro momento, a mesma. O que faziam os estudantes da década de 1970 ao ler, selecionar trechos, reproduzir ou realizar uma releitura dos mesmos em suas produções para projetos e tarefas escolares não seria, neste sentido, o mesmo que hoje com a Wikipedia ou com o Google e seus resultados de busca. Será?
Na realidade, a ideia primordial é a mesma, ou seja, a da busca de informações para compor conhecimento, enriquecer saberes, realizar pontes inteligando conteúdos e leituras de sala de aula com novos autores, fatos e dados.
Há, no entanto, diferenças primordiais. Por exemplo, a leitura na internet tende a ser muito mais rápida e, assim sendo, menos criteriosa ou preocupada em entender as minúcias do texto, buscar suas conexões. A leitura, muitas vezes, pode até mesmo se restringir ao título, subtítulo e linhas iniciais, para saber se contempla a pesquisa demandada em sala de aula. É comum, em diferentes níveis de ensino, que os professores se defrontem com “trabalhos” supostamente de autoria de seus alunos nos quais há menções a outros estudantes, escolas e épocas...
A leitura criteriosa passa a ser, neste sentido, uma meta a ser atingida quando se propõe aos alunos pesquisas a serem realizadas na web e que venham a compor material para seus projetos. Isso pode ser atingido se os alunos são informados desde o princípio que, de algum modo, serão questionados quanto ao conteúdo do trabalho realizado, seja em aula ou em avaliações. É preciso que fique claro a todos os alunos que o professor leu (ou lerá) sua composição e que ela de algum modo poderá ser referenciada ou utilizada em questionamentos direcionados a ele ou a toda a turma.
A própria leitura do trabalho pelo professor, muitas vezes esmagado por uma grande carga de atividades a realizar em aula e também fora da escola, muitas vezes acaba fazendo com que sua correção seja rápida e que, com isso, não se percebam situações como reprodução de materiais da internet disfarçadas. O comprometimento do professor na correção dos trabalhos é uma forma muito eficaz de se combater esta ou qualquer outra ação indevida dos alunos. Sua leitura atenta e correção minuciosa permitem devolutivas plenas aos alunos e lhes transmite a ideia de que o docente está muito sintonizado, comprometido e engajado com o processo de ensino-aprendizagem que realiza e com a formação de seus pupilos.
Além da leitura com foco e condição de articulação em relação aos saberes trabalhados em aula, o trato da informação obtida no mundo virtual, ao ocorrer mecanicamente através do copiar e colar não oportuniza para o aluno a seleção de informações e, principalmente, a organização das ideias no papel.
A seleção de ideias é, muitas vezes, descartada ou substituída pela escolha aleatória de alguns trechos, com o intuito de compor a esperada tarefa que foi pedida. Isso quando não ocorre simplesmente a cópia e colagem de todo o material encontrado num site ou portal. O processo de escolha criteriosa de dados infere relacionar com o que foi estudado anteriormente, a leituras indicadas, a tarefas pedidas, a explanações do(s) docente(s) daquele ano ou de etapas anteriores do ensino. É, portanto, uma ação de racionalização, organização, construção e elaboração dos saberes e, como tal, não pode ser desprezada ou relegada a segundo plano.
Organizar as ideias no papel, por sua vez, é a parte do trabalho em que o estudante tem que dar aos recortes sobre as temáticas em estudo (trazidas pelas leituras, aulas e pesquisas on-line e off-line) a sua compreensão de todo este montante de dados. A isto trará, como contribuição e elemento de aglutinação o seu conhecimento de mundo, pautado em experiências e leituras que fez ao longo da vida e que lhe são próprias e únicas. Além disso, estará praticando a escrita, a organização das informações, enriquecendo o vocabulário e definindo a sua forma de escrever e de se comunicar através das letras.
Neste sentido, é praticamente um imperativo para o professor - ao pedir pesquisas, trabalhos ou qualquer tipo de projeto que demande levantamentos por parte dos alunos – que se estipulem metas além da simples busca de conteúdos. Os docentes precisam orientar o trabalho de pesquisa e almejar, além dos conteúdos adicionados, que também sejam atingidos objetivos como:
- Busca pelas melhores fontes;
- Utilização de mais de uma fonte;
- Uso de referências virtuais e também físicas;
- Leitura criteriosa e focada;
- Seleção das ideias mais importantes dos materiais pesquisados;
- Comparação/aproximação das ideias lidas com as aulas e materiais usados em sala de aula;
- Rascunho ou esboço do que irá escrever e levar para a aula;
- Enriquecimento do vocabulário e melhor conhecimento das regras gramaticais;
- Escolha de imagens, gráficos, tabelas ou outros materiais visuais que ajudem a tornar mais clara a ideia do projeto;
- Valorização de saberes que já possui quanto ao assunto (leituras e experiência de vida) e que possam ajudar a compor seu projeto;
- Desenvolvimento da escrita quanto às técnicas e também em busca de seu próprio estilo e forma de comunicar-se através das letras;
 Isso não significa dizer que não existam pontos positivos na pesquisa on-line, pelo contrário, sua agilidade e a disponibilização de base de dados e informações que vem de todo o mundo é um grande adendo para a educação. No entanto, o que não pode acontecer é o uso acrítico e inconsistente, ou seja, sem que o aluno pense seus procedimentos, os conteúdos por ele escolhidos e mesmo, que realize apenas um ato mecânico de copiar e colar para apenas atender uma demanda de seus professores... Neste sentido vale sempre destacar que a educação tem que ser, sempre, significativa para o aluno, ou seja, vinculada ao seu mundo, associada ao que ele vive ou viverá, sendo capaz, desta forma, de fazer com que tudo para ele no processo de ensino-aprendizagem seja realmente motivador e desafiador!

2 comentários:

  1. Quem, nos dias de hoje, consegue se imaginar vivendo sem o computador?

    Se você acordasse num belo dia, ou péssimo, vai da interpretação e descobrisse q a internet entrou em colapso, explodiu, cata-pum, havia desaparecido... Consegue imaginar como seria?


    O mundo existia antes da internet e continuaria existindo se ela desaparecesse.

    Mas depois que nos acostumamos com esse mar de informações é difícil viver sem ele.

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  2. Ainda me lembro e sinto saudades do tempo em que ficava na Escola no contra turno para ir à Biblioteca para fazer minhas pesquisas escolares e como também não havia xerox era preciso fazer a leitura e lá mesmo resumir o texto e anotar o que realmente era importanta para depois em casa escrever a redação final.
    Concordo com a Larissa que já não consigo imaginar como seria a vida sem a internet, onde rapidamente conseguimos informações e encontramos soluções para quase tudo, desde dicas para tirar manchas de roupa, uma deliciosa receita de suflê. ou dicas de exposições de arte. Porém sinto que de uma forma ou de outra fomos preparados para esse tempo, pois aprendemos a lidar com os livros e por isso somos criteriosos na busca de informação. Lemos o texto, fazemos uma seleção de idéias, comparamos diferentes textos. Temos a internet como nossa aliada, como mais uma ferramenta de informação e pesquisa. Porém me deparo com a dificuldade de mostrar para nossos alunos como essa facilidade pode ser inútil, se o aluno não se dispõe a fazer uma seleção, uma comparação, Para eles, basta o CtrV e CtrC num editor de texto e está tudo resolvido.
    Sinto saudades da minha velha Barsa!

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